DC – O facto de ser um dos atletas que mais vezes vestiu a camisola negra deve ser motivo de orgulho?
PR – Claro que sim. Ao longo destes anos todos é um orgulho ser um dos jogadores mais utilizados. Neste momento, julgo que sou o guarda-redes com mais jogos feitos pela Académica e com uma larga vantagem. São dados estatísticos que me deixam extremamente orgulhoso. É sinal de que a minha dedicação, entrega e forma de viver a Académica tem tido algum sucesso. É pena que, às vezes, não exista o retorno e a valorização necessária e justa por parte de outras pessoas. Às vezes, costumo dizer que a estatística vale o que vale – provavelmente daqui a alguns anos já ninguém se lembrará do percurso do Pedro Roma na Académica -, mas esses dados para mim valem muito.
DC – Está à beira de completar 37 anos. Sente-se nesta altura melhor guarda-redes do que há um ou dois anos?
PR – Sinto. Muito sinceramente cada ano que passa sinto-me ainda mais jovem e cada vez mais completo. Nesse particular, quero salientar o papel do treinador de guarda-redes, neste caso o “mister” Luís Matos, que voltou novamente, e do Zivanovic, que, se calhar, foram determinantes no meu amadurecimento enquanto guarda-redes. Se os tivesse encontrado mais cedo na minha carreira, talvez o meu percurso pudesse ter sido outro. Sinto que cada vez tenho sido mais eficaz, forte e regular, fruto da minha dedicação e de ser uma pessoa que gosta de ir à procura da perfeição. Sou muito exigente comigo mesmo. Não há dúvida, que me sinto cada vez mais capaz.
DC – De qualquer maneira, fala-se mais no final da carreira do que propriamente no presente…PR – As pessoas têm legitimidade de falar dessa forma, porque tudo na vida tem um ciclo. Agora, se as pessoas têm dúvidas de alguma coisa peguem nos dados estatísticos e leiam as críticas, isto se isso valer de alguma coisa para elas. O meu ciclo dentro da Académica provavelmente vai se esgotar enquanto profissional, mas sinto-me extremamente bem.
DC – Sente-se capaz de jogar até que idade?
PR – Hoje em dia, se repararmos em termos de contexto mundial há uma longevidade cada vez maior nos guarda-redes. Tivemos em Portugal o caso do Preud’Homme e actualmente temos o caso do Kahn, do Toldo ou do Lehmann que atingiram o seu auge, mas que continuam a manter uma regularidade até perto dos 40 anos. Portanto, esse mito do guarda-redes a partir dos 30 e tal anos já estar velho e do seu ciclo estar numa fase decrescente é algo que tem de se afastar. Não coloquei nenhuma data, nem nenhuma meta. Essencialmente, gostaria de ser eu a determinar quando me vou afastar e não serem outras pessoas de fora que determinassem quando seria a minha última época. Eu próprio terei consciência quando será o momento para terminar. Quando não me sentir capaz, aí sim. Não me quero arrastar. Tudo tem um ciclo. Eu próprio irei determinar isso e tenho consciência de que irei consegui-lo.
DC – É posto à prova todos os dias?
PR – Constantemente.
DC – Por si ou por outros?
PR – Pelas duas partes. Coloco-me a mim à prova todos os dias, em cada minuto de treino e em cada jogo, pois só assim poderei melhorar. Também cometo erros, mas se não tivesse uma luta interior dentro de mim provavelmente já tinha desmotivado e o meu ciclo terminaria de uma forma muito mais rápida. Eu motivo-me constantemente. Peço às outras pessoas para me motivarem e tenho tido colegas que me obrigam a ser cada vez mais forte. Felizmente, tenho conseguido jogar e alcançado grandes sucessos ao longo destas épocas. Também existe o outro lado que é o facto de toda a gente me cobrar e me colocar à prova, em virtude de estar há muitos anos na Académica e de ser um dos mais experientes. Se calhar, determinado tipo de erros que se podiam admitir noutros elementos, em mim já não se admitem de uma forma natural, fruto da regularidade e do nível elevado que tenho demonstrado.
DC – Mas vai acabar a carreira na Académica?
PR – Seguramente. A minha decisão é terminar na Briosa, se as pessoas mo permitirem.
DC – Mas não lhe estarão a colocar limites quando lhe apresentaram um contrato de um ano?
PR – Claro que sim. É um desafio enorme. Terei de provar mais um ano que se as coisas correrem bem tenho capacidade para jogar ainda mais uma época. É uma exigência grande, mas julgo estar preparado para isso. Agora, é um limite que se colocou em virtude das pessoas entenderem que o meu ciclo poderá estar a terminar. Agora, vamos ver até quando.
DC – E a Académica acabou de contratar dois guarda-redes.
PR – É uma situação natural. São dois jovens que poderão ser o futuro da Académica, com grande qualidade por aquilo que tenho visto. A única coisa que me entristece é que não sejam jovens formados na Académica. Se a memória não me falha, desde que saiu o Tó Luís, o João Viva e eu, julgo que mais nenhum guarda-redes da formação se afirmou no plantel sénior, o que é uma situação que me deixa extremamente triste. E, se calhar, temos de inverter um bocadinho isso. Em vez de irmos buscar matéria a outro lado, como tem acontecido na Académica, gostaria que a aposta tivesse sido feita num elemento proveniente das camadas jovens da Académica. Certamente, este ano iremos ter uma luta muito saudável e, dentro daquilo que me é possível, vou tentar ajudá-los ao máximo.
DC – Qual foi o guarda-redes com quem teve mais prazer de lutar pelo lugar?
PR – Não posso escolher um em concreto. Todos eles tiveram uma forma saudável de estar no treino. Há um elemento que posso referenciar, embora não considere que tenha sido uma luta, com quem partilhei muitos anos nesta instituição que foi o Eduardo, que acaba de sair. É um atleta com um potencial fantástico, pena que tenha sido condicionado por não ter uma estatura ideal para um guarda-redes. O Eduardo tem um capital humano fantástico e temos uma amizade que vai para além da luta por um lugar. Mas com todos os guarda-redes aprendi um bocadinho.
DC – O que faltou na sua carreira?
PR – Tenho pena de nunca ter ido à selecção nacional A. Fui apenas internacional sub-21. Teria sido a cereja no topo do bolo, mas o facto de jogar na Académica poderá ter condicionado essa decisão. De qualquer maneira, tenho tido a felicidade de estar numa instituição enorme.
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